“A Feira do Desperdício tem sido fundamental para a relação com atuais parceiros e prospecção de possíveis futuros parceiros”
Na Casa Mendes Gonçalves a aposta em inovação focada na redução do desperdício já permitiu à empresa valorizar 89% dos resíduos produzidos. Ana Tasso, Diretora de Investigação, Desenvolvimento e Inovação acredita que a Feira do Desperdício poderá também contribuir para ajudar os produtores num contexto de grande pressão a nível regulatório.
Como é que a Feira do Desperdício tem impulsionado a valorização dos vossos excedentes transformando-os em novas oportunidades de negócio?
A Feira do Desperdício tem sido fundamental para a relação com atuais parceiros e prospecção de possíveis futuros parceiros, facilitando a comunicação e permitindo identificar as sinergias mais relevantes entre entidades, criando valor no desenvolvimento de novos produtos através da incorporação dos desperdícios resultantes de cada uma.
Que parcerias nasceram a partir desta iniciativa?
Através da Feira do Desperdício, o Clube de Produtores Continente juntou cinco associações de produtores de Maçã de Alcobaça (Narcfrutas, Cooperfrutas, Frutalvor, Campotec e Lusofruta), dois produtores de sumo fresco de maçã (Alitec e Frubaça) e um parceiro industrial (Casa Mendes Gonçalves), para produzir o Vinagre de Maçã de Alcobaça Continente Seleção - um produto de valor acrescentado, feito com fruta fora de calibre ou que, pelo seu aspeto, não seria valorizada em fresco. Com esta iniciativa, contribuiu-se para evitar o desperdício de 50.000 kg de maçãs, na produção de 30.000 litros de vinagre.
Para além desta parceria, resultante do projeto FermentedVegAlgae (uma iniciativa de colaboração entre MC Sonae, ISA e Casa MG), criámos um novo Molho Chucrute, feito de excedentes de vegetais portugueses. A Feira do Desperdício permitiu identificar os vegetais mais desperdiçados em fresco pelos produtores, com o objetivo de valorizar estes ingredientes e criar valor para os produtores. Em paralelo, ainda nos permite estabelecer o contacto direto com os parceiros e fornecedores dos desperdícios utilizados na receita do Molho Chucrute, criando importantes pontes de comunicação.
Além da Feira do Desperdício, que outras iniciativas a vossa empresa tem implementado para reduzir o desperdício alimentar e promover a economia circular na produção?
Na Casa MG temos projetos de investigação e desenvolvimento focados na valorização de subprodutos e desperdícios resultantes dos nossos processos, permitindo-nos valorizar 89% dos resíduos produzidos pela empresa, garantindo o seu envio para reciclagem ou reutilização. Um exemplo é a utilização do subproduto resultante do processo de fermentação de pimentos picantes. Este subproduto - constituído pelas peles, sementes e talos dos pimentos - é depois reincorporado nos nossos picantes, dando-lhe assim uma nova utilização e valorização.
A nível de desperdícios resultantes dos nossos processos de produção, destacamos os testes de investigação em curso, com o objetivo de que os mesmos sejam utilizados para diversos fins, tais como a alimentação de insetos (purgas de ketchup e molho barbecue), a fermentação (purgas de ketchup e molho barbecue) ou reincorporados novamente em produtos como picantes, ketchup e molho barbecue. Atualmente, os nossos desperdícios de molhos com gordura são utilizados para a produção de biodiesel.
Por outro lado, através da automação e monitorização contínua das linhas de produção, pretendemos otimizar o uso de matérias-primas e reduzir perdas. Olhamos para investimentos em processos mais limpos e de menor impacto ambiental, que nos permitem uma maior eficiência produtiva, alinhada com os princípios da economia circular, e uma redução do desperdício produtivo para 2,4%.
Paralelamente, promovemos projetos-piloto de plantação de matérias-primas próprias, localmente, permitindo uma redução do impacto ambiental e o aproveitamento de desperdícios internos de forma alternativa.
No futuro, pretendemos reforçar e aumentar os projetos que nos permitam ampliar a circularidade e contribuir de forma proativa para a redução do desperdício alimentar, tais como:
• Parcerias com produtores locais, num modelo de agricultura regenerativa, com foco na recuperação dos solos e proteção da biodiversidade;
• Aplicação dos princípios de ecodesign e aumento da utilização de embalagens recicláveis
Quais os principais desafios e oportunidades que a empresa identifica para a prática da economia circular no setor agrícola?
A nível económico, o cenário internacional mantém-se diariamente desafiante, marcado pela persistência de tensões geopolíticas e pela aceleração dos impactos das alterações climáticas. Estes fatores exigem às empresas, e à Casa MG, uma maior resiliência e visão de longo prazo. A pressão a nível Regulatory intensifica-se diariamente, sobretudo nas áreas de sustentabilidade, fiscalidade e direitos laborais, exigindo antecipação, resiliência e uma resposta responsável por parte de todos os intervenientes.
Como é que a Feira do Desperdício pode contribuir para superá-los?
Estes desafios e oportunidades apenas poderão ser ultrapassados e alcançados através da colaboração com parceiros que nos permitam fazer este caminho. Acreditamos que a rede da Feira do Desperdício terá um grande impacto neste sentido, facilitando a pressão a nível de Regulatory que se sente atualmente.
No último ano, quantas toneladas de produto conseguiram reaproveitar e tiveram nova vida?
Na Casa MG, conseguimos valorizar 89% dos resíduos produzidos pela empresa, garantindo o seu envio para reciclagem ou reutilização. Além disso, recebemos cerca de 3,9 toneladas de matérias-primas provenientes da Vila Feliz Cidade - o nosso projeto agroflorestal em modo de agricultura regenerativa - para integração em produto.